"A Era dos Extremos" de Eric Hobsbawm é uma obra seminal que examina os grandes eventos, transformações e rupturas do século XX, período que o autor chama de "o breve século XX", de 1914 a 1991. Publicado em 1994, o livro não é apenas uma narrativa histórica, mas uma profunda análise crítica de como as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais moldaram o mundo contemporâneo.
O Historiador Hobsbawm divide o século XX em três grandes partes |
Hobsbawm, renomado historiador, divide o século XX em três grandes partes: a "Era da Catástrofe" (1914-1945), a "Era de Ouro" (1945-1973) e a "Era do Colapso" (1973-1991). Essas três fases destacam o surgimento de grandes guerras, a ascensão e queda de ideologias políticas e os impactos devastadores e surpreendentes da globalização.
📚 Livro Recomendado: A Era dos Impérios 1875 - 1914 (Eric Hobsbawn)
1. A Era da Catástrofe (1914-1945)
A primeira parte do livro se concentra nas catástrofes que abriram o século XX, com destaque para as duas Guerras Mundiais e a Grande Depressão. Hobsbawm argumenta que o período entre 1914 e 1945 foi uma época de turbulência global sem precedentes, marcada pela ascensão de ideologias extremistas como o fascismo e o comunismo, que emergiram das cinzas da Primeira Guerra Mundial e da instabilidade econômica que seguiu a Grande Depressão de 1929.
Eric Hobsbawm nos oferece uma visão abrangente do século XX |
Segundo Hobsbawm, a Primeira Guerra Mundial destruiu a ordem europeia do século XIX e desestabilizou os impérios. Já a Segunda Guerra Mundial não apenas consolidou o poder dos Estados Unidos e da União Soviética como as duas grandes potências mundiais, mas também foi o catalisador para mudanças drásticas nas colônias, levando ao surgimento de novos estados-nação no período pós-guerra.
A ascensão do totalitarismo, com líderes como Hitler e Mussolini, e os impactos da Revolução Russa de 1917 são tratados como exemplos das consequências diretas das crises econômicas e políticas dessa era de extremos. O autor vê esse período como uma luta contínua entre ideologias e sistemas de governo, cada um prometendo uma solução para as profundas crises sociais e econômicas que estavam abalando o mundo.
2. A Era de Ouro (1945-1973)
Após o final da Segunda Guerra Mundial, o mundo entrou no que Hobsbawm chama de "Era de Ouro". Este período, que vai de 1945 a 1973, foi marcado por um crescimento econômico sem precedentes, impulsionado pelo boom industrial e pela reconstrução pós-guerra. Hobsbawm destaca o impacto do Plano Marshall na revitalização da Europa Ocidental, a expansão do estado de bem-estar social em várias nações e o crescimento da classe média.
Guerra Fria proporcionou uma estabilidade relativa entre as superpotências |
Durante essa época, o autor enfatiza o papel dos Estados Unidos como líder do "mundo livre" e da União Soviética como rival ideológico. A Guerra Fria, apesar de ser uma era de tensões e confrontos indiretos, paradoxalmente proporcionou uma estabilidade relativa entre as superpotências, já que ambos os lados temiam uma guerra nuclear. Esse medo contribuiu para a manutenção de um equilíbrio global, mesmo que instável.
Hobsbawm também aponta que esse período viu avanços significativos nos direitos civis, a emancipação das mulheres e o movimento de descolonização. As antigas colônias, especialmente na África e na Ásia, começaram a obter sua independência, criando uma nova ordem mundial em termos de política internacional.
3. A Era do Colapso (1973-1991)
No entanto, a "Era de Ouro" chegou ao fim abruptamente em 1973, com a crise do petróleo e o colapso do sistema econômico global estabelecido após a Segunda Guerra. Hobsbawm argumenta que o período entre 1973 e 1991 foi marcado por uma crise prolongada, não apenas econômica, mas também política e social.
A crise global resultou no colapso do estado de bem-estar social em muitos países, na ascensão do neoliberalismo, e no aumento das desigualdades sociais. Além disso, a Guerra Fria terminou com o colapso da União Soviética em 1991, marcando o fim de uma era de confrontos ideológicos e levando à hegemonia global do capitalismo, especialmente sob a liderança dos Estados Unidos.
Hobsbawm vê essa era de colapso como uma época de incerteza e de fragmentação. O autor sugere que, apesar de os avanços tecnológicos e as mudanças econômicas terem proporcionado uma globalização acelerada, elas também criaram novos problemas, como o desemprego estrutural e a exclusão social de massas, além de crises ambientais.
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Uma Era de Extremos com Reflexos Contemporâneos
"A Era dos Extremos" é uma análise detalhada e crítica de um século que transformou o mundo de maneiras inimagináveis. Eric Hobsbawm nos oferece uma visão abrangente das complexidades do século XX, destacando como eventos, ideologias e crises moldaram o mundo moderno. O autor destaca que, embora tenhamos superado muitos dos desafios daquele século, continuamos a enfrentar as consequências dessas transformações, como a crescente desigualdade, crises ambientais e instabilidades políticas.
Para leitores interessados em compreender as raízes do mundo contemporâneo e como o passado influencia o presente, "A Era dos Extremos" é uma leitura obrigatória. Com uma abordagem perspicaz e uma visão panorâmica dos eventos mais significativos, Hobsbawm oferece uma obra-prima da história global.