quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

O que é o chamado "Eixo das Ditaduras"

O termo “Eixo das Ditaduras” é frequentemente utilizado para descrever a aliança estratégica entre países considerados autoritários como Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Esses países compartilham sistemas políticos centralizados e com fortes restrições de liberdades individuais, além de interesses e adversários comuns que os aproximam no cenário internacional. Apesar de suas diferenças culturais, históricas e políticas, essas nações têm construído uma relação de cooperação em áreas como defesa, economia e diplomacia, unidas por um denominador comum: a rivalidade com o Ocidente e sua busca por uma ordem mundial multipolar.

Rússia e China compartilham sistemas políticos de poder centralizado


Embora existam muitos outros países considerados autoritários, a verdade é que este termo é normalmente utilizado para caracterizar esse conjunto específicos de nações que tem se oposto ao ocidente capitaneado pelos EUA e União Europeia. Essas quatro nações citadas, se tornaram nos últimos tempos, o símbolo dessa oposição a um nível não visto desde a Guerra  Fria. Liderando um conjunto de ações que busca garantir seus interesses em detrimento da opinião do ocidente.


Fatores de Aproximação Recente

Os últimos anos marcaram um fortalecimento das relações entre essas nações, impulsionado por fatores como:

  • Rivalidade com o Ocidente: As sanções econômicas impostas por países ocidentais à Rússia e ao Irã, as disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China, e o isolamento da Coreia do Norte devido ao seu programa nuclear, criaram incentivos para que esses países buscassem apoio mútuo.
  • Rejeição ao Liberalismo Ocidental: Essas nações compartilham uma visão de mundo que se opõe ao modelo liberal-democrático promovido pelo Ocidente, adotando políticas que enfatizam a soberania nacional e o controle interno sobre os valores universais.
  • Interesses Econômicos e Militares: A cooperação entre esses países é evidente na troca de tecnologia militar, no comércio de energia e na criação de alternativas às instituições econômicas ocidentais, como o sistema SWIFT.

O Passado Soviético e as Relações Após a Guerra Fria

Embora essa aproximação e a consolidação recente do Eixo das Ditaduras surpreenda muitos analistas, é impossível falar sobre as interações desses países sem mencionar o passado soviético russo

Antes do sim em 1991, a União Soviética em 1991 liderava esse bloco de nações


No século XX, a União Soviética desempenhou um papel central na configuração das relações entre Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Durante a Guerra Fria, Moscou foi o centro de um bloco socialista que incluía China e Coreia do Norte, oferecendo apoio militar, econômico e político a ambos. No caso do Irã, a Revolução Islâmica de 1979 marcou um afastamento do Ocidente e aproximou Teerã de Moscou, que viu no novo regime uma oportunidade de contrabalançar a influência americana no Oriente Médio. Embora dentro do país o movimento socialista tenha sido extremante reprimido. 

Com o colapso da União Soviética em 1991, parecia que muitos desses laços históricos enfraqueceriam. A Rússia buscou inicialmente uma aproximação com o Ocidente, enquanto a China se concentrava em sua abertura econômica. No entanto, as décadas seguintes demonstraram que esses países compartilhavam interesses estratégicos duradouros que os levaram a se reaproximar, principalmente após os primeiros embates com nações ocidentais. 


Motivos para a Reaproximação Recentemente

Vários fatores levaram essas nações a restabelecerem laços mais estreitos nos últimos anos:

  • Sanções Ocidentais: Tanto Rússia quanto Irã enfrentaram sanções severas dos EUA e da União Europeia. Moscou, em especial, após a anexação da Crimeia em 2014 e a invasão da Ucrânia em 2022, encontrou na China e no Irã aliados para contornar essas restrições econômicas.
  • Conflitos Regionais e Geopolíticos: A Coreia do Norte permanece como uma pedra angular na estratégia regional da China, enquanto o Irã desempenha um papel central na luta contra a presença ocidental no Oriente Médio. A Rússia também tem interesses em apoiar esses países como forma de enfraquecer a influência dos EUA em suas respectivas regiões.
  • Interesses Econômicos e Energéticos: A Rússia fornece petróleo e gás tanto para a China, enquanto a Coreia do Norte depende de Pequim para grande parte de suas necessidades econômicas. Essa interdependência fortalece os laços entre essas nações.

A Relação Sino-Norte-Coreana

A relação entre a China e a Coreia do Norte é histórica. Durante a Guerra da Coreia (1950–1953), a China enviou tropas para apoiar o regime de Pyongyang contra as forças da ONU lideradas pelos Estados Unidos. Desde então, a Coreia do Norte tem sido vista como um estado-tampão estratégico para a China, que deseja evitar a expansão da influência americana na península coreana.

China continua sendo a principal apoiadora do regime norte-coreano


Atualmente estima-se que existam quase 30.000 militares americanos em solo sul-coreano. Dessa forma, o território norte-coreano serve como uma área de amortecimento para presença americana. 

Embora haja tensões ocasionais, como nas questões envolvendo os testes nucleares norte-coreanos, a China continua sendo a principal apoiadora de Pyongyang. Pequim fornece ajuda econômica, combustível e alimentos à Coreia do Norte, mantendo a estabilidade do regime de Kim Jong-un e garantindo uma situação relativamente previsível em sua fronteira.


A Relação Rússia-China

A relação entre Rússia e China é provavelmente a mais importante dentro do eixo das ditaduras. Ambos os países compartilham uma fronteira extensa e têm interesses complementares em muitas áreas. No campo econômico, a China é o maior parceiro comercial da Rússia, especialmente após o aumento das sanções ocidentais. Moscou exporta grandes volumes de petróleo, gás natural e matérias-primas para Pequim, enquanto importa produtos manufaturados e tecnologia chinesa.

Militarmente, Rússia e China realizam exercícios conjuntos regulares e compartilham tecnologias de defesa. A cooperação no desenvolvimento de sistemas de mísseis e na modernização de equipamentos militares fortalece a posição de ambos no cenário global. Além disso, os dois países têm trabalhado juntos em fóruns internacionais, como o BRICS e a ONU, promovendo uma ordem mundial que diminua a influência ocidental. 

Como ambos os países são membros do Conselho de Segurança, sua relevância entre as nações contrarias a influencia e valores ocidentais se torna ainda mais forte e valorizada. 


A Relação Rússia-Irã

A parceria entre Rússia e Irã é profundamente estratégica e baseada em interesses comuns no Oriente Médio. Os dois países cooperaram no apoio ao regime sírio de Bashar al-Assad e compartilham uma visão de oposição à presença militar americana na região.

No campo energético, Rússia e Irã, ambos grandes produtores de petróleo e gás, buscam coordenar estratégias para lidar com as pressões ocidentais e proteger seus mercados. A Rússia também vende armas ao Irã e tem colaborado no desenvolvimento de infraestrutura militar e energética iraniana. Atualmente o Irã é apontado como um dos principais fornecedores de equipamentos militares para Moscou no conflito com a Ucrânia, como o drone Shahed -36.  


Um Eixo em Expansão?

O chamado “eixo das ditaduras” é mais do que uma aliança de conveniência; é um reflexo de interesses compartilhados em resistir à influência ocidental e moldar uma nova ordem global. Embora cada país dentro deste bloco tenha suas próprias motivações e prioridades, a cooperação entre Rússia, China, Irã e Coreia do Norte demonstra como regimes autoritários podem se unir para enfrentar desafios externos e proteger seus próprios sistemas políticos internos.

Na prática a continuidade dessa aliança dependerá de como o Ocidente responderá às suas ações e de como essas nações lidarão com suas diferenças internas. Contudo, no atual cenário geopolítico, o eixo das ditaduras emerge como uma força significativa na redefinição do equilíbrio de poder mundial. Desafiando as antigas potências e resenhando o xadrez geopolítico mundial

Veja Também nosso vídeo: O que é o chamado "Eixo das Ditaduras"



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens mais visitadas