sábado, 11 de janeiro de 2025

O Escudo Militar do Regime Venezuelano

A ascensão de Hugo Chávez ao poder e a continuidade de seu legado com Nicolás Maduro transformaram a Venezuela em um exemplo paradigmático de como um regime pode cooptar o apoio dos militares para consolidar o poder político. A forma como os militares se integraram ao governo, assumindo papéis não apenas na segurança nacional, mas também na política e na economia, é um aspecto central para entender a dinâmica de forças dentro da Venezuela contemporânea.

O Chavismo e os Militares: Uma Aliança Estratégica

Quando Hugo Chávez chegou ao poder em 1999, ele vinha de um histórico militar: havia sido tenente-coronel no exército e, antes de sua ascensão política, havia tentado um golpe militar fracassado em 1992. Sua experiência no exército e o apoio que recebeu de setores das Forças Armadas durante seu movimento político foram cruciais para sua vitória. Chávez soube explorar sua identidade militar para criar uma rede de apoio sólida dentro da instituição, convencendo os militares de que seu regime representava uma ruptura com as elites tradicionais, que haviam marginalizado os soldados durante grande parte da história recente da Venezuela.

O Chavismo foi eficiente em cooptar o apoio dos militares para consolidar o poder político


O chavismo teve um papel decisivo na transformação da relação entre o governo e as Forças Armadas. Chávez fez da construção de uma aliança com os militares uma das suas principais estratégias de governança. Ele implementou uma série de políticas e reformas que garantiram aos militares uma presença significativa na vida política e econômica do país. Ao mesmo tempo, desenvolveu um discurso populista que vinculava os militares a uma causa nacionalista e anti-imperialista, voltada contra os interesses dos Estados Unidos e das elites internas.

A Exceção Venezuelana: O Exército com o Maior Número de Generais do Mundo

Um aspecto curioso e até alarmante sobre a relação entre o chavismo e os militares é a enorme quantidade de generais na estrutura das Forças Armadas da Venezuela. O país possui aproximadamente 2.000 generais, um número que ultrapassa e muito a quantidade de generais de grandes potências militares como a França (55 generais) ou o Reino Unido (44 generais). A quantidade excessiva de oficiais de alta patente na Venezuela reflete a estratégia de Chávez e de seu sucessor, Nicolás Maduro, de conceder promoções e vantagens militares, criando uma rede de lealdade entre os militares.

Essa abundância de generais e outros oficiais de alta patente tem uma clara intenção política: garantir que os militares tenham um grau de poder e autonomia suficiente para evitar qualquer tipo de rebelião interna ou ameaça ao regime. Isso também tem um custo financeiro significativo, com recursos públicos sendo direcionados para sustentar essa elite dentro das Forças Armadas. Esse sistema hierárquico, em que os militares estão em posições chave tanto dentro das Forças Armadas quanto em diversas esferas governamentais, se traduz numa estrutura de poder dentro do Estado que desafia as tradicionais divisões de poder.

Os Militares na Política Venezuelana

A política venezuelana tem se caracterizado pela crescente infiltração dos militares em todos os aspectos do governo. Além de uma grande quantidade de generais, membros das Forças Armadas desempenham papéis proeminentes em diversas áreas do Estado, incluindo a administração de setores estratégicos da economia, como a indústria do petróleo e as forças de segurança pública. De fato, muitas das empresas estatais, que controlam as principais fontes de receita do país, como a estatal PDVSA (Petróleos de Venezuela S.A.), têm gerentes e executivos de alta patente militar.

O Governo de Chávez ampliou a militarização da economia


Durante o governo de Chávez, o aumento do envolvimento dos militares na administração econômica foi visto como uma forma de garantir que o regime tivesse controle direto sobre os recursos do país, especialmente os provenientes do petróleo. Sob a alegação de que os militares eram mais leais ao projeto socialista e menos suscetíveis à corrupção, Chávez ampliou a militarização da economia. Durante o governo Maduro, essa estratégia foi ainda mais consolidada, e a presença militar nas áreas econômicas e políticas não diminuiu, mas se expandiu, com militares assumindo papéis chave na supervisão de toda a infraestrutura econômica da Venezuela.

O apoio dos militares tem sido decisivo para a perpetuação do chavismo


O fortalecimento do papel militar também foi evidente na política externa, com os militares apoiando políticas chavistas, como o alinhamento com regimes socialistas em Cuba, Bolívia e outros países da América Latina. Esse apoio também incluiu a construção de uma retórica comum contra os Estados Unidos e os países da União Europeia, sempre enfatizando a necessidade de resistir à pressão externa e defender a soberania nacional.

O Papel Crucial dos Militares no Regime de Maduro

Com a morte de Hugo Chávez em 2013, Nicolás Maduro assumiu a presidência, enfrentando uma série de desafios, incluindo uma crescente crise econômica, descontentamento popular e isolamento internacional. Nesse cenário, os militares continuaram a ser a principal força de apoio ao regime de Maduro, desempenhando um papel fundamental na manutenção da estabilidade do governo. A lealdade dos militares ao chavismo e ao regime de Maduro foi crucial durante os momentos de protestos e tentativas de golpe, como os eventos de 2014 e 2017, quando as manifestações de opositores e as tentativas de destituir o governo se intensificaram.

Os militares garantiram apoio ao regime e repressão contra protestos


Os militares garantiram que os protestos fossem reprimidos com força, e seu apoio permitiu que Maduro sobrevivesse a uma série de crises políticas. Além disso, com a crescente escassez de alimentos e medicamentos e a crise econômica generalizada, os militares tomaram a responsabilidade de distribuir recursos e controlar as fronteiras, aumentando seu poder sobre a sociedade e a economia. Isso consolidou ainda mais o vínculo entre o regime de Maduro e as Forças Armadas, criando uma estrutura onde a segurança do governo dependia diretamente da lealdade militar.

O Impacto Econômico da Militarização na Venezuela

A militarização da economia venezuelana tem sido um dos principais fatores para a crise atual do país. Com os militares assumindo controle sobre setores econômicos estratégicos, como petróleo, mineração e alimentos, houve um desvio significativo de recursos que deveriam ser direcionados para a população civil.

Fica bem claro que a aliança entre o regime de Maduro e os militares tem permitido que o governo mantenha um controle autoritário sobre o país, impossibilitando uma mudança política ou econômica substancial.

Conclusão: A Força Militar como Pilar do Regime de Maduro

Na prática o apoio dos militares tem sido decisivo para a perpetuação do chavismo, especialmente durante o governo de Nicolás Maduro. A enorme quantidade de generais, o envolvimento dos militares na política e economia, e sua lealdade contínua ao regime têm sido as chaves para entender como a Venezuela, apesar de sua crise, ainda não experimentou uma mudança de regime. No entanto, esse modelo de governança também gerou uma série de problemas estruturais, com a militarização da economia agravando ainda mais a situação do país. O papel dos militares no regime de Maduro permanece como a principal força de apoio, sustentando um governo que, sem essa base, provavelmente teria enfrentado uma queda há muito tempo.

Veja Também: A Disputa entre Venezuela e Guiana por Essequibo 



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