terça-feira, 10 de setembro de 2024

A Nova Rainha do Povo Maori da Nova Zelândia

    O Povo Maoiri da Nova Zelandia tem uma nova rainha. A filha mais nova do antigo rei Tuheitia, Ngā Wai Hono i te Pō , foi anunciada como o próximo monarca em 5 de setembro de 2024. Ngā Wai é a segunda rainha do Kīngitanga, depois de sua avó Te Arikinui Dame Te Atairangikaahu.

Ngā Wai Hono i te Pō — A Nova Rainha dos Maoris


    Embora não tenha poder político, a ascensão da nova rainha maori, uma figura de grande importância cultural e política para o povo maori, reflete tanto a continuidade de uma tradição que remonta ao século XIX quanto a adaptação das lideranças maoris às questões e desafios do século XXI. A rainha atua como a líder simbólica do Kingitanga, um movimento político maori que nasceu durante os tempos coloniais para unificar as várias tribos sob uma liderança única.


A Origem do Movimento Kingitanga


    O movimento Kingitanga tem suas raízes no século XIX, durante um período em que as tensões entre os colonizadores britânicos e os povos indígenas maoris estavam em um ponto crítico. Com o aumento da imigração britânica e o crescente controle colonial sobre a terra e os recursos da Nova Zelândia, muitos maoris viram a necessidade de se unificar sob uma liderança centralizada, a fim de melhor resistir à perda de suas terras e autonomia. Antes do Kingitanga, os maoris eram divididos em diversas tribos e não tinham uma estrutura política centralizada comparável à monarquia europeia.

Te Wherowhero — Primeiro Rei Māori


    O movimento foi formalmente estabelecido em 1858, quando Potatau Te Wherowhero, um respeitado chefe (ariki) da tribo Waikato, foi escolhido como o primeiro rei maori. A sua nomeação marcou a fundação do Kingitanga, ou o Movimento do Rei Maori, cujo objetivo principal era proteger as terras e a soberania dos maoris. Embora a coroa britânica tenha mantido o controle político e militar da Nova Zelândia, o Kingitanga se tornou um símbolo de resistência e de afirmação cultural. 


Funções e Papel da Monarquia Maori


    Diferente da monarquia britânica, o papel da rainha ou rei maori não é apenas simbólico, mas também tem profundas implicações culturais e políticas dentro da sociedade maori. A monarquia maori atua como um ponto focal para os maoris de todas as tribos, oferecendo uma liderança que transcende as divisões tribais e regionais. Embora não tenha poder legislativo formal, a liderança Kingitanga serve como mediadora entre as comunidades maoris e o governo neozelandês, especialmente em questões que afetam os direitos indígenas, como a posse da terra, recursos naturais, e a língua maori.

    O rei ou rainha maori também desempenha um papel crucial em preservar e promover a cultura maori, participando de cerimônias importantes, festividades e eventos que reforçam a identidade indígena. Eles são vistos como guardiões da espiritualidade e da cultura do povo, tendo uma função de ligação entre o passado e o presente, conectando as gerações.


A Ascensão da Nova Rainha Maori


    Após a morte do Rei Tuheitia, a nova rainha maori foi coroada. Sua ascensão marca um novo capítulo na história da monarquia maori. Ao assumir o trono, a nova rainha herdou uma série de responsabilidades em um momento delicado para os maoris, que continuam a lutar por maior reconhecimento e pelos seus direitos em um país ainda marcado por cicatrizes históricas.

Antigo Rei Tuheitia (Maori) e Rei Carlos III (Britânico)


    O Rei Tuheitia, que reinou por 16 anos, foi um líder que lutou pela unidade maori e por melhores condições de vida para o seu povo. Ele também desempenhou um papel importante nas negociações sobre a devolução de terras e nas questões relacionadas ao Treaty of Waitangi (Tratado de Waitangi), um acordo histórico entre a Coroa britânica e os chefes maoris em 1840.


Desafios e Importância Atual da Monarquia Maori


    A nova rainha maori assume seu papel em um momento em que a Nova Zelândia está passando por profundas mudanças sociais e políticas. A questão dos direitos indígenas continua a ser central nas discussões políticas do país, especialmente em áreas como a posse da terra, a preservação da língua maori, e o controle dos recursos naturais. Além disso, questões globais, como mudanças climáticas, também afetam de forma desproporcional as comunidades maoris.

    Embora a monarquia maori não tenha poder político direto, seu papel como mediadora e defensora dos interesses maoris é de grande importância. A nova rainha terá que continuar a luta de seus antecessores para garantir que os maoris tenham uma voz forte nas discussões políticas da Nova Zelândia e que seus direitos sejam respeitados. Além disso, ela terá o desafio de manter a unidade dentro do próprio movimento Kingitanga, que, ao longo dos anos, enfrentou tensões internas e divisões entre diferentes tribos.

    A relação entre a monarquia maori e o governo neozelandês também evoluiu ao longo dos anos. No passado, houve momentos de grande tensão, especialmente durante as guerras da Terra Maori no século XIX, quando o governo britânico reprimiu violentamente os maoris que resistiram à perda de suas terras. No entanto, nas últimas décadas, houve uma maior disposição para o diálogo e para a reconciliação. O governo neozelandês tem implementado várias medidas para reparar as injustiças históricas, incluindo acordos de devolução de terras e indenizações baseadas no Tratado de Waitangi.

    Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito, e a nova rainha terá um papel fundamental de tentar garantir que as futuras gerações maoris possam viver em uma Nova Zelândia que respeite plenamente seus direitos e cultura. Seu reinado será uma continuidade das lutas travadas por seus antecessores, mas também será uma oportunidade para fortalecer o papel do Kingitanga.


O Futuro da Monarquia


    Com uma forte base cultural e histórica, a monarquia maori continuará a ser um símbolo de orgulho e unidade para os maoris, bem como uma lembrança viva de sua resistência e resiliência ao longo dos séculos. Ngā Wai Hono i te Pō representa tanto a continuidade de uma rica tradição cultural quanto uma nova era de liderança em um momento de grandes desafios e oportunidades para o povo maori.

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sábado, 7 de setembro de 2024

Qual a Origem do 7 de Setembro?

     A Independência do Brasil é um dos eventos mais importantes da história do país, marcando a ruptura formal com Portugal e o início de uma nova nação. O processo de independência, no entanto, foi complexo, envolvendo tensões internas e externas, negociações, e momentos de grande simbolismo. A data oficialmente reconhecida da Independência do Brasil é 7 de setembro de 1822, quando Dom Pedro I proclamou o famoso "Grito do Ipiranga". Entretanto, uma outra data foi originalmente associada à independência: 12 de outubro de 1822. Com o tempo, essa data foi alterada, e a escolha final do 7 de setembro envolve questões tanto históricas quanto simbólicas.

Independência do Brasil é um dos eventos mais importantes da história Nacional


O Contexto da Independência


    O Brasil, durante mais de três séculos, foi colônia de Portugal. No início do século XIX, no entanto, os ventos de mudança sopravam sobre a América Latina, com vários países se libertando do domínio colonial europeu. No caso brasileiro, a independência foi precedida por uma série de eventos significativos, como a vinda da família real portuguesa para o Brasil em 1808, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte que haviam invadido Portugal. A instalação da Corte no Rio de Janeiro trouxe mudanças econômicas e políticas substanciais, e o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815.

Embarque da família real portuguesa


    Com o retorno de Dom João VI a Portugal em 1821, após a Revolução Liberal do Porto, Dom Pedro, seu filho, foi deixado no Brasil como regente. À medida que a pressão das cortes portuguesas para que o Brasil voltasse ao status de colônia aumentava, também crescia a insatisfação entre os brasileiros, especialmente entre as elites locais. Esses conflitos de interesse culminaram na decisão de Dom Pedro de permanecer no Brasil, ignorando as ordens de retornar a Portugal, no evento conhecido como "Dia do Fico", em 9 de janeiro de 1822.


O Sete de Setembro e o Grito do Ipiranga


    A independência propriamente dita foi proclamada por Dom Pedro em 7 de setembro de 1822, às margens do Riacho do Ipiranga, em São Paulo. O "Grito do Ipiranga" foi um ato simbólico de ruptura com Portugal, em resposta às pressões crescentes de Lisboa para reverter as reformas e restabelecer o controle total sobre o Brasil. Ao erguer a espada e declarar "Independência ou Morte!", Dom Pedro fez o gesto que viria a marcar o nascimento de uma nova nação.

    Apesar de 7 de setembro ser a data que ficou mais associada à Independência do Brasil, o processo não se encerrou ali. A separação formal de Portugal envolveu batalhas e negociações diplomáticas que duraram até o reconhecimento oficial por Portugal, em 1825.


A Proclamação de 12 de Outubro e sua Importância Original


    Embora 7 de setembro seja a data celebrada atualmente, outra data foi, inicialmente, vista como central para a independência: 12 de outubro de 1822. Essa data foi escolhida para a aclamação de Dom Pedro como imperador do Brasil, marcando o início oficial de sua governança como chefe do novo Império do Brasil.

    Coincidência ou não, 12 de outubro escolhida como a data para a aclamação imperial, era também a data de nascimento de Dom Pedro I. Assim, como tradicionalmente acontece nas monarquias europeias, onde a criação do reino é associada a fundação do país, assim também a aclamação do novo imperador também seria associado a fundação do "Brasil".


Por Que a Data Mudou para 7 de Setembro?


    A mudança para 7 de setembro como a data oficial ocorreu de forma gradual, à medida que a nação começou a construir sua identidade e narrativa histórica, em especial com a proclamação da república, em uma tentativa de apagar o passado monárquico. Vários fatores contribuíram para essa mudança:

Com a república, Brasil começou a moldar uma nova história oficial


1. O Simbolismo do Grito do Ipiranga: O gesto de Dom Pedro às margens do Ipiranga, declarando "Independência ou Morte!", tem um relativo impacto simbólico. Essa cena, mais dramática é visualmente poderosa, acabou sendo incorporada à narrativa nacional como o momento decisivo da ruptura com Portugal. O "Grito do Ipiranga" se tornou um emblema da luta pela liberdade, sendo mais adequado para a celebração de um ato revolucionário e heroico.

2. A Consolidação da República: Com a proclamação da república, o Brasil começou a moldar sua história oficial, destacando momentos que fortaleciam o sentimento nacionalista. O 7 de setembro foi promovido como o dia da "fundação" do Brasil independente.

3. Conveniência Política: Para muitos historiadores, a escolha do 7 de setembro como a data oficial também teve a ver com a necessidade de consolidar a figura de Dom Pedro como herói nacional. Ao centrar a independência em seu ato de bravura no Ipiranga, apagava-se a imagem do imperador e restava a imagem do herói nacional.


Os Motivos Para a Mudança Definitiva


    Ao longo do século XIX, o governo imperial começou a dar maior destaque ao 7 de setembro em celebrações públicas e eventos cívicos. Essa data, sendo anterior à aclamação de Dom Pedro, também simbolizava a independência do Brasil como uma vitória sobre Portugal, enquanto 12 de outubro era mais centrada na figura do imperador e da Monarquia. Com o tempo, o governo republicano, que sucedeu o império em 1889, consolidou ainda mais o 7 de setembro como o "Dia da Independência", favorecendo uma interpretação mais focada na ruptura colonial do que na continuidade monárquica.

    Assim, o 7 de setembro acabou se tornando a data central das comemorações de independência, enquanto 12 de outubro foi relegado a um papel secundário, ainda celebrado, mas principalmente como o dia de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil.

    O Dia de Nossa Senhora Aparecida é considerado feriado nacional, segundo a Lei n. 6.802/1980, oficializada em 1980 pelo presidente João Batista Figueiredo.

    O processo de independência do Brasil foi longo e repleto de nuances políticas e sociais. A mudança de foco para o 7 de setembro reflete o desejo de criar uma narrativa que enfatizasse a libertação de Portugal e a formação de uma nova nação independente e republicana.

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