Como Terremoto de Lisboa mudou Portugal e a Europa

O Grande Terremoto de Lisboa, ocorrido em 1º de novembro de 1755, é um dos desastres naturais mais devastadores e marcantes da história moderna. Sua magnitude foi tão intensa que seus efeitos foram sentidos em várias partes da Europa e até no Norte da África. O impacto do terremoto e seus desdobramentos – incluindo um maremoto e diversos incêndios – destruíram grande parte da cidade de Lisboa, capital de Portugal, e deixaram profundas marcas na sociedade, na religião, na filosofia e na política da época. Este evento trágico mudou para sempre a percepção humana sobre a natureza e o papel da Fé nas tragédias naturais.

Grande Terremoto de Lisboa é um dos desastres naturais mais marcantes da história moderna

O Evento Catastrófico

Na manhã de 1º de novembro de 1755, dia de Todos os Santos, quando muitos moradores de Lisboa estavam nas igrejas celebrando a data religiosa, a terra começou a tremer violentamente. O terremoto teve uma duração de aproximadamente seis minutos, e estima-se que tenha atingido uma magnitude entre 8,5 e 9,0 na escala Richter – um dos mais fortes já registrados na Europa. Ele gerou fendas no solo e destruiu muitos dos edifícios que compunham a arquitetura da cidade. Como Lisboa estava localizada próxima a uma falha tectônica, o terremoto foi particularmente destrutivo.

O terremoto teve uma duração de aproximadamente seis minutos

O epicentro do terremoto provavelmente estava no Oceano Atlântico, o que gerou um gigantesco maremoto. Poucos minutos após o tremor, uma série de ondas gigantescas invadiu a cidade, arrastando pessoas, embarcações e destroços. Esse maremoto alcançou as costas de vários países ao redor do Atlântico, inclusive na América do Norte e nas ilhas do Caribe. Mas a catástrofe não parou por aí. Devido à quantidade de velas acesas para as celebrações de Todos os Santos, muitos edifícios pegavam fogo e, rapidamente, a cidade ficou envolta em chamas, criando um incêndio de grandes proporções que continuou queimando por dias.

O Impacto Humano e Material

O terremoto de Lisboa resultou em uma devastação sem precedentes. Estima-se que entre 30 mil e 60 mil pessoas tenham perdido a vida, embora os números exatos sejam incertos devido à falta de registros precisos. Mais de 85% dos edifícios de Lisboa foram destruídos, incluindo monumentos históricos, igrejas e palácios. O Palácio Real, a Ópera e a famosa Biblioteca Real, que continha um acervo de livros e documentos raros, foram reduzidos a escombros.

Estima-se que entre 30 mil e 60 mil pessoas tenham perdido a vida

A destruição afetou todos os aspectos da vida em Lisboa. As estruturas econômicas foram severamente impactadas, com a perda de estoques, bens e mercadorias, e houve uma interrupção na atividade comercial e marítima. Além disso, muitos dos sobreviventes ficaram desabrigados e sem recursos básicos, o que gerou uma crise humanitária. A extensão do desastre foi tamanha que houve um aumento dos índices de criminalidade e desordem, com saques e violência nas ruas.

Consequências Filosóficas e Religiosas

O impacto do Grande Terremoto de Lisboa ultrapassou as fronteiras de Portugal e provocou debates filosóficos e teológicos em toda a Europa. Na época, a visão predominante era a de que desastres naturais eram atos de Deus, como uma punição pelos pecados humanos. O fato de o terremoto ocorrer em um feriado religioso e destruir diversas igrejas e locais de adoração levantou questionamentos sobre a bondade e a justiça divinas.

Filósofos iluministas, como Voltaire, usaram o terremoto como exemplo em seus textos para criticar a ideia de que vivemos “no melhor dos mundos possíveis”, uma filosofia defendida por Leibniz. Voltaire escreveu o famoso poema “Poème sur le désastre de Lisbonne” e mencionou o evento em seu livro “Cândido”, questionando a visão otimista da época e criticando a ideia de que o sofrimento e a destruição poderiam ter um propósito divino.

Além disso, o terremoto trouxe à tona uma nova forma de entender os fenômenos naturais. Cientistas e filósofos começaram a buscar explicações racionais e naturais para os desastres, em vez de atribuir tudo à vontade divina. Essa mudança de perspectiva contribuiu para o desenvolvimento da sismologia e de outras ciências naturais.

A Reconstrução de Lisboa

Após o desastre, a responsabilidade de reconstruir Lisboa recaiu sobre o Marquês de Pombal, primeiro-ministro do rei D. José I. Pombal implementou uma série de medidas rápidas e eficazes para conter o caos e dar início à reconstrução da cidade. Ele proibiu o aumento nos preços dos alimentos e a prática de saques, e ordenou a remoção dos corpos para evitar a propagação de doenças.

O Marquês de Pombal utilizou o desastre para consolidar seu poder

Na reconstrução da cidade, Pombal aplicou técnicas inovadoras. Lisboa foi reconstruída de forma planejada, com ruas largas e edifícios mais resistentes. Uma das maiores inovações foi o uso de estruturas de madeira flexíveis para absorver os impactos de futuros terremotos, criando uma arquitetura conhecida como “gaiola pombalina”. Esse método foi um dos primeiros sistemas de construção projetados para resistir a abalos sísmicos.

Consequências Políticas e Sociais

O terremoto também teve um impacto profundo na política de Portugal. O Marquês de Pombal utilizou o desastre para consolidar seu poder, implementando reformas modernizadoras e centralizando o governo. Ele promoveu o fim de certos privilégios da nobreza e da Igreja, além de fortalecer a autoridade do Estado sobre essas instituições. Sob seu governo, Portugal passou por um processo de secularização e racionalização, com ênfase na educação, na indústria e na reorganização da economia.

O Legado do Terremoto de Lisboa

O Grande Terremoto de Lisboa foi um dos eventos mais transformadores do século XVIII. Além de sua destruição imediata, o terremoto provocou uma série de mudanças duradouras na filosofia, na ciência, na política e na arquitetura. A reconstrução de Lisboa foi um marco de modernização, e as questões levantadas pelo desastre influenciaram pensadores europeus por décadas.

Hoje, o terremoto de 1755 é lembrado como um dos primeiros eventos que ajudaram a moldar o mundo moderno, tanto no aspecto científico quanto no cultural e político. Ele simboliza a fragilidade da humanidade diante da força da natureza e destaca a importância de respostas rápidas e organizadas em momentos de crise. A tragédia de Lisboa é um lembrete de como os desastres naturais podem mudar o curso da história, impulsionando novas ideias e inspirando a busca por conhecimento e compreensão do mundo em que vivemos.

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